segunda-feira, 17 de abril de 2017

ÚNICO, UNO, ÍNTEGRO, INTEIRO E INDIVISÍVEL SER AINDA QUE SEMELHANTE

Joilson Gouveia*

A despeito da brilhante crônica “ÚNICO”, de nosso vetusto, provecto, proficiente e dileto literata caetés e tupiniquim, urge trazer à baila alguns excertos de Mário Ferreira dos Santos, sobre a “razão”, in Filosofa e Cosmovisão, a saber:
·         A comparação é o primeiro movimento do nosso espírito para estruturar a razão, como se vê na construção dos esquemas noéticos examinados no Tratado de Esquematologia. Conhecer é, na verdade, reconhecer; conhece-se o que acreditamos já reconhecer. O conhecimento é um reconhecimento, porque exige uma assimilação a esquemas já estruturados.
·         Conhecer racionalmente é comparar, pois o conhecimento racional é conceitual. Se digo que este objeto é livro, é porque o comparo ao conceito “livro” e verifico que vale para este objeto a afirmação de ser livro.
·         Não é a razão contrária à vida como julgam alguns irracionalistas. Tanto o homem como os animais buscam o semelhante. Não haveria vida superior possível sem a obediência a esse impulso vital (um verdadeiro instinto), que leva os seres vivos superiores a comparar o semelhante ao semelhante.
·         A razão, como uma das funções do espírito, distingue os elementos semelhantes e destes retira o que é semelhante, deixando apenas o incognoscível, o inefável, o individual não comparável, de que já falamos. É importante notar-se esse ponto: a razão extrai do que é diferente o que ‘pode ser’ semelhante, rejeita o que não é mais racionalmente cognoscível, por não ser comparável.
·         Outro ponto: um objeto absolutamente diferente, racionalmente incognoscível, isto é, não sujeito a um conhecimento conceitual, quando se apresenta novamente à consciência, já não é diferente, mas comparável ao que de si mesmo ficou na consciência (memória).
·         A consciência pode reconhecê-lo e por isso, conhecê-lo racionalmente. Esta [é] a razão por que nos escapa muito do que nos excita pela primeira vez.
·         A razão, função do nosso espírito, não se contenta em reconhecer uma vez ou várias. Quer reconhecer sempre. Aqui, intervém um princípio de economia de esforço, que é biológico. Se cada vez que se apresentassem objetos novos fosse necessário recomeçar a comparação para verificar se é semelhante a isto ou aquilo, a vida seria complicada e difícil, e os resultados, nulos, porque teríamos de repetir o mesmo processo. Essa economia de esforço, que já verificamos no procedimento seletivo da própria vida, leva a razão a separar, a isolar o semelhante que interessa, única forma de torna-lo sempre recognoscível, comparável. Dessa forma, ele é elevado à categoria de uma realidade independente, necessariamente imutável, idêntico a si mesmo, pois, do contrário, falharia, por não permitir a comparação, e todo o processo comparativo tornar-se-ia novamente moroso e, consequentemente, cansativo, antieconômico e prejudicial.
·         Eis a abstração. E essa separação não se dá concretamente no objeto, mas no espírito, como já estudamos. O contrário do abstrato é o concreto. Mas concreto é o conjunto do semelhante ou o diferente racionalizado, separado, isolado do concreto pela mente humana.
·         Assim, o semelhante é elevado à categoria do imutável; damos-lhe uma existência independente, permanecendo sempre igual a si mesmo – torna-se conceito. Dessa forma, é possível a redução do desconhecido ao conhecido, e o conceito precede à experiência. Esta decorre de uma síntese da intuição e do conceito, como já vimos. É o conceito que modela a intuição e dá como resultado a experiência, reduzindo, desse modo, o esforço intelectual. Por isso, o conceito vem de um longo passado, e sua elaboração, que deve ter sido lenta e difícil, acabou por sar uma nova função ao espirito humano, economizando suas forças.” *O conceito é antecedido pelo anteconceito, que é uma singularidade que se generaliza, como é estudado em Psicologia, na Noologia Geral e no Tratado de Esquematologia.
·         É o conceito a base de toda linguagem, pois não haveria língua possível se déssemos um nome a cada fato. A língua funciona com conceitos, e é a conceituação de uma língua que demonstra a sua superioridade. Um povo primitivo, selvagem, tem uma conceituação deficiente, como sucede com os indígenas.” (Sic.) Loco citato in p.158/160.
Em sendo assim e assim sendo, somos sujeitos semelhantemente indivíduos únicos distintos dos demais semelhantes similares, símiles e singulares e cada qual com sua individualidade própria e única e somente dele e de cada qual, daí nosso ceticismo e criticismo ao coletivista amante da humanidade e salvador do mundo, que prega uma incognoscível igualdade-igualitária de seres semelhantes diversos, díspares, distintos e diferentes quando somos de espécie e gênero desigual, dessemelhante e distinto ou único enquanto Ser.
Abr
*JG

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