segunda-feira, 2 de julho de 2018

DA VERVE DOS SOCIALISTAS “A PALAVRA DONINHA SOCIAL”

Joilson Gouveia*


Fundado na inolvidável, indubitável e insofismável obra Hayek, Friedrich A. von, 1899-1992: “Os erros fatais do socialismo”, é mister trazer a lume o seguinte: a saber; “O substantivo ‘sociedade’, equívoco como é, torna-se um tanto inócuo quando comparado ao adjetivo ‘social’, que passou a ser talvez a expressão que mais gera confusões em todo nosso vocabulário moral e político”.
Nos últimos cem anos, “período no qual seu uso moderno, seu poder e sua influência logo se expandiram da Alemanha de Bismarck para todo o globo”.
Diz-nos mais o mestre Hayek, a saber:
·         A confusão que ele difunde, no campo mesmo em que é mais usado, deve-se em parte ao fato de definir não apenas fenômenos produzidos por vários modos de cooperação entre os homens, como em uma ‘sociedade’, mas também os tipos de ações que promovem essas ordens e as servem. A partir deste uso, ele se tornou cada vez mais uma exortação, uma espécie de palavra de ordem para a moral racionalista que pretende substituir a moral tradicional, e agora suplanta cada vez mais a palavra ‘bom’ como designação do que é moralmente certo. Como resultado desse caráter ‘distintamente dicotômico’, como diz com propriedade o Webster’s New Dictionary of Synonyms, o sentido descritivo e o normativo da palavra ‘social’ sempre se alternam e o que parece, à primeira vista, uma descrição torna-se uma prescrição.
·         [...] Mas ‘ser social’, insiste Wiese, ‘não é o mesmo que ser bom, nem justo aos olhos de Deus’ (1917) A alguns discípulos de Wiese devemos instrutivos estudos históricos sobre a difusão do termo ‘social’ (ver referências em 1976:180).
·         A extraordinária variedade de emprego da palavra ‘social’ nas línguas modernas desde então (...) todas as ocorrências da palavra ‘social’ gerando uma lista de cerca de 160 substantivos qualificados pelo adjetivo ‘social’:
·         Eis, pois, algumas das 160 - “ação; acordo; administração...democracia... estabilidade...justiça...reforma... trabalho...valor... virtude e etc.” – vide p. 157/158.
O autor destaca ainda mais, a saber:
·         “Muitas das combinações aqui apresentadas são ainda mais usadas numa forma negativa ou crítica, ‘ajustamento social’ se torna ‘desajustamento social’ e o mesmo ocorre com ‘desordem social’, ‘injustiça social’, ‘insegurança social’, ‘instabilidade social’ e assim por diante”.
Bem por isso, assesta o brilhante mestre:
·         “É difícil saber, com base apenas nessa lista, se a palavra ‘social’ adquiriu tantos significados diferentes que acabou se tornando inútil como instrumento de comunicação. Seja como for, seu efeito é bastante claro e no mínimo triplo. Em primeiro lugar, ela tende viciosamente insinuar um conceito que nos capítulos anteriores vimos ser equivocado – a saber, que aquilo que foi gerado pelos processos impessoais e espontâneos da ordem ampliada é na verdade resultado da criação humana deliberada. Em segundo lugar, em consequência disso, a palavra apela às pessoas para que planejem melhor o que jamais poderiam ter planejado. Em terceiro lugar, ela adquiriu ainda o poder de esvaziar de significado os substantivos que qualifica.
·         Neste último efeito, ela tornou-se o exemplo mais perigoso daquilo que, fazendo referência a Shakespeare – ‘eu chupo melancolia de uma canção como a doninha faz com ovos’ – [‘I can suck melncholy out of a song, as a weasel suck eggs’ (Do jeito que você gosta, 11,5), tradução do verso de Carlos Alberto Nunes. (N.T.) -, alguns americanos chamam de ‘palavra doninha’ [Wease word]. Assim como a doninha seria supostamente capaz de esvaziar um ovo sem deixar sinais visíveis, essas palavras esvaziam o conteúdo qualquer termo que qualificam, deixando-o aparentemente intacto. Usam-se as palavras doninhas para cortar as garras de um conceito que se é obrigado a empregar, mas do qual se deseja eliminar todas as implicações que ameaçam as próprias premissas ideológicas”.
Encerrando com iluminado autor Hayek:
·         “Similarmente, o termo ‘democracia’ costumava ter sentido bastante claro; contudo ‘democracia social’ não só servia o radical austro-marxismo do período entreguerras como foi escolhido agora na Grã-Bretanha para denominar um partido político comprometido com uma espécie de socialismo fabiano. Entretanto, o termo tradicional usado para expressar o que chamamos de ‘estado social’ era ‘despotismo benevolente’ e o problema bastante real da aplicação deste despotismo de maneira democrática, isto é, preservando a liberdade individual, simplesmente desaparece num passe de mágica na mistura ‘democracia social’.
Ora, olvida-se o escólio de David Hume: “O que interessa à sociedade é a conduta, não a opinião: contanto que nossas ações sejam justas e boas, não tem a menor importância para os outros que as nossas opiniões estejam equivocadas”. – Apud Op. cit. In loco citato p. 212.
Enfim, não é à toa que nossa pátria é chamada por eLLes, atuais espurcos progressistas, antes comunistas/socialistas, de democracia-social ou social democracia ou estado democrático de direito, onde estariam preservando a liberdade individual [que alegam não ter existido no período do regime constitucional militar de 1964 a 1985] mas sequer temos, na atual democracia social, a liberdade de estar, ficar, ir e vir sem ser molestado, ameaçado ou assaltado, mormente assassinado por meliantes tutelados por esse estado democrático social de direito denominados de “excluídos sociais” ou “vítimas sociais” dessa civilizada “Sociedade Social”.
- Liberdade ou autonomia não é, como a origem das palavras talvez pareça sugerir, isenção de todas as restrições, mas antes a aplicação mais efetiva de todas as restrições justas a todos os membros da sociedade, sejam governantes ou súditos”. – Adam Ferguson.
- “As regras de moralidade não são produto de conclusões de nossa razão”. – David Hume.
Abr
*JG

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