domingo, 9 de outubro de 2016

DESCOBRIMENTO UMA POLÊMICA FÉRTIL** – Latitude Sul 10°

Joilson Gouveia*

Senhor Editor,
Inobstante às considerações do emérito professor e historiador potiguar Lenine Pinto, editadas em O JORNAL de 02 abril, p.9, cujos argumentos aduzem ter sido o Monte Cabugi, sito no Rio Grande do Norte, como sendo o motivo do histórico brado de Terra à vista! Seria tal monte o Monte Pascal, segundo ele em seus estudos; o que alimenta ainda mais à chamada polêmica fértil de O JORNAL.
Contudo, para melhor semear essa útil polêmica, é imperioso lembrar que, além das "grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muita cheia de grandes arvoredos (...)será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa(...)De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa" (sic.) grifei. Portanto, com cento e dez a cento e quarenta quilômetros, haja vista que uma légua dista quase seis quilômetros. Assim, 110 a 140 quilômetros de barreiras altas e praias planas, aproximadamente. É a exata distância entre a Praia do Gunga e à do Pontal do Coruripe, no Miaí, 110 km de praias, onde se vê tais barreiras altas, umas vermelhas, outras brancas e muito plana e muito formosa. E nossa costa tem 324 quilômetros, sendo 188 quilômetros no litoral sul e 136 ao norte.
Portanto, resta saber se há na região do Monte Cabugi praias semelhantes às nossas.
Vê-se da Carta de Caminha, que fora exaurida em 01 de maio de 1500, num porto seguro em que se encontravam. Vejamos parte dela:
"(...) Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome, o Monte Pascoal, e à terra, a Terra da Vera Cruz. – Dia 21 de abril de 1500, quarta-feira.
"Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças; e, ao sol posto, obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em dezenove braças - ancoragem limpa. Ali permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, quatorze, treze, doze, dez e nove braças, até a meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos"(sic.) grifei. (Dia 22 de abril de 1500.)
"E sexta pela manhã, às oito horas pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o capitão levantar âncoras e fazer vela; e fomos ao longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados à popa na direção do norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nos demorássemos, para tomar água e lenha. Não que nos minguasse, mas por aqui nos acertamos". (Dia 23 de abril de 1500) às oito horas pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o capitão levantar âncoras e fazer vela; e fomos ao longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados à popa na direção do norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nos demorássemos, para tomar água e lenha. Não que nos minguasse, mas por aqui nos acertamos". (Dia 23 de abril de 1500)
"E, velejando nós pela costa, acharam os ditos navios pequenos, obra de dez léguas do sítio donde tínhamos levantado ferro, um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. As naus arribaram sobre eles; e um pouco antes do sol posto amainaram também, obra de uma légua do recife, e ancoraram em onze braças”. (Sic.) grifei.
"Ao sábado pela manhã mandou o capitão fazer vela, e fomos demandar a entrada, a qual era mui larga e alta de seis a sete braças. Entraram todas as naus dentro; e ancoraram em cinco ou seis braças - ancoragem dentro tão grande, tão formosa e tão segura que podem abrigar-se nela mais de duzentos navios e naus "(sic) – grifei. Dia 24 de abril de 1500.
E caminha encerra sua carta assim: "Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500." [Ass.] Pero Vaz de Caminha – Textos da Carta de Caminha extraídos do site Brasil500 anos.
Estes textos servem para chamar a atenção do leitor sobre que parte da nossa costa teria essas características que não a costa alagoana, mormente a parte grifada.
Ademais, se a própria Carta de Caminha tivesse situado o achamento da novel terra em graus de latitude ao sul do equador, decerto o azimute náutico cartográfico se encontraria exatamente na região das falésias de Coruripe, Jequié da Praia e de São Miguel dos Campos, todos em Alagoas. Isto é fato imutável, ou seja, a exatos 10º como registra a cartografia atual. Logo, ao velejarem ao norte dez léguas (55 quilômetros, aproximadamente) só poderiam ter achado um porto seguro num dos rios ou lagoas, que se encontravam e ainda se encontram com mar, para que todos ancorassem nesse porto seguro. Coisas só encontradas no nosso litoral sul.
Doutra banda, os Cabos de Calcanhar e de São Roque, no Rio Grande do Norte, ficam situados entre 5º e 6º graus de latitude sul. O Cabo de Santo Agostinho, situa-se em Pernambuco, mas em 8º de latitude, aproximadamente. Já Ilhéus situa-se entre 14º35’ e Porto Seguro está na latitude 16º21’22". Logo, se Cabral (seu Gouveia) tivesse navegado dez léguas ao norte, onde teria encontrado tal porto seguro? Há nas costas baiana, pernambucana ou potiguar região que se assemelhe às descritas por Caminha?
Segundo Eduardo Bueno, in O piloto que conduziu Cabral ao Brasil, Época de 02.02.2000: "No entardecer do dia 22 de abril, essas terras foram avistadas. Cinco dias mais tarde, em companhia do astrônomo mestre João, Pero de Escobar mediu, com o auxílio de um astrolábio, a latitude do território recém-descoberto. O resultado foi "aproximadamente" 17º de latitude Sul. Uma medição bastante precisa: Porto Seguro se localiza a 16º 21' 22"(sic.) grifei – Entrementes, o próprio autor da medição escreveu ao seu rei não ter certeza sobre a exatidão de seus dados, como se pode ver do citado texto apud Eduardo Bueno in Brasil 500 anos.
E segundo Max Justo Guedes in A Viagem de Pedro Alvares Cabral – Brasil500 anos, Cabral (...)dirigia-se a noroeste quando avistou um "grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos".(..) Se isto ocorresse, jamais seriam avistadas serras ao sul do Monte Pascoal, pois, visto de nordeste ou de oeste, ele surge como um monte isolado, sem que apareçam as ditas "serras mais baixas".(sic.) Menos ainda as referidas barreiras altas, as praias planas, rios e lagoas de água doce que se encontravam com o mar, como ainda se encontram até hoje.
Em sendo assim, os mapas cartográficos e denominações locais até que podem ter mudado, mas os graus, minutos e segundos das latitudes e longitudes não, estes são os mesmos de então. Imutáveis, portanto!
Aliás, saliente-se que LATITUDE s. f. Distância entre o equador e um lugar qualquer da Terra, medida em graus, sobre o meridiano que passa por esse lugar; o clima, em relação à temperatura; (Do lat. latitudine.); enquanto LONGITUDE s. f. Arco do equador compreendido entre o meridiano de um lugar e o primeiro meridiano convencionado; distância. (Do lat. longitudine.) in dicionário Globo.
As dúvidas que porventura ainda persistem nalguns historiadores e noutros estudiosos, que teimam em negar os fatos históricos sobre o achamento da Terra Brasilis por seu Gouveia e sua esquadra, só poderão ser dissipadas, de uma vez por todas, se se fizer o mesmo trajeto transcrito por Caminha, obedecidos e cumpridos os graus de navegação nela contidos e, mais ainda, fotografar ou filmar nossa costa alagoana, vista do mar, na latitude de 10º(dez graus), donde se verá às barreiras altas e avermelhadas e outras brancas ao longo da costa e que o Monte Pascal (monte alto e arredondado com terras chãs ao sul) outro não é senão um dos montes da Serra Dois Irmãos, em Alagoas, cujas características não encontramos nesses outros locais aduzidos por seus autores.
Ademais, de lembrar ainda que, após a missa que fora celebrada, em 01 de maio de 1500, é a data que Caminha assina sua carta ao rei D. Manoel, nove dias depois do achamento. Portanto, a Nau Capitânia e esquadra poderiam ter navegado ao sul, nesses nove dias, para melhor explorar o lugar e ter uma ideia da dimensão exata da terra achada, mas não há registro que tenham ido ao sul, e sim ao norte.
Fato é que em nenhum dos outros supostos locais do achamento se vai encontrar barreiras altas, delas vermelhas, delas brancas com mais de vinte a vinte e cinco léguas de praias planas, como está na Carta de Caminha, e situado nos graus de latitude sul, com rios e lagoas de águas doces, que se encontravam com o mar, com um monte alto e arredondado com terras chãs ao sul.
Logo, até prova em contrário, seu Gouveia e Esquadra aportaram nas Alagoas, sim.
Com efeito, a polêmica fértil continua...
*Servidor público militar estadual no posto de Ten. Cel PM e Bel em Direito pela UFAL. – **texto editado em O Jornal, de 22 de Abril de 2000 – Brasil 500 anos!
Abr
*JG

P.S: reeditado da série: “rememorar para jamais olvidar

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