domingo, 9 de outubro de 2016

CINCO SÉCULOS DE ENGODO E MENTIRAS**

Joilson Gouveia*

Precisa-se dar um basta em tantas mentiras sobre o nosso sofrido Brasil e sua história, que a estória (s.f. Ficção; fábula; coisa imaginada; patranha; mentira.), fundada na empreitada midiática, tenta coonestar. O Brasil jamais fora descoberto ou achado na Bahia e menos ainda em Porto Seguro como tentam difundir no projeto global Brasil500anos. Chega de falsas verdades e mentiras torpes!
Antes mesmo de "seu" Cabral – que, em verdade, era seu Gouveia, consoante assevera Eduardo Bueno em 500anos in Revista Época, de 14 de fevereiro 2000: "Por não ser o primogênito, Pedro Álvares só pôde usar o nome do pai depois da morte de seu irmão mais velho"- até chegar ao Brasil ou, pelo menos, ao novel continente, que viria a se chamar Brasil, outros navegadores já haviam estado aqui. Isto é fato incontestável, pois que os marcos, placas e documentos históricos registram-nas. Portanto, é imperioso não olvidar "as descobertas de Pinzón, e de Leppe, em janeiro e fevereiro de 1500"– vide Fascículo n.º 1 de Alagoas500, editado pelo "O Jornal", de 08 de fevereiro de 2.000.
Assim, se o engodo do projeto Brasil500 anos, que se funda na certidão de nascimento da terra brasilis: a Carta de Caminha; numa astuciosa alienação, para induzir aos leigos acreditarem nessa estória de que o Monte Pascal ou Pascoal teria sido o marco da terra das Cabrálias, de Vera Cruz, de Santa Cruz, de Brasilis e que, hoje, Porto Seguro, na Bahia, seria a origem do famoso brado: terra à vista! É, pois, pura fantasia, patranha, ledo e falaz engano.
Toda essa falácia cai por terra ao se analisar justa, pura e simplesmente à própria Carta de Caminha ao seu rei, posto que nela (segundo Douglas Apratto e outros sérios historiadores alagoanos, responsáveis pelos fascículos Alagoas500 anos, tão bem nos mostram a verdade de Jaime de Altavila) é de se ver a descrição exata do retrato do Brasil visto por Pero Vaz de Caminha:
"(...)e então o capitão passou o rio, com todos nós outros, e fomos até uma lagoa grande de água doce, que está junto com a praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima, e sai a água por muitos lugares(...) a terra traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas e outras brancas(...)."- texto extraído da histórica e autêntica Carta de Caminha, certidão de nascimento do Brasil
Portanto, resta claro que, nem em Ilhéus, nem em Porto Seguro ou mesmo em toda costa baiana se vai encontrar "as barreiras altas e avermelhadas, e um monte muito alto e redondo com terras chãs ao sul" e nem os rios e lagoas de que tratam o registro oficial do Brasil.
A paisagem descrita, nessa histórica e autêntica Carta de Caminha, outra não é senão aquela sobre às falésias (as barreiras avermelhadas de Jequiá da Praia) de Coruripe, São Miguel dos Campos, Gunga e Barra de São Miguel, todos em Alagoas, vistas do mar que banha a costa alagoana.
Se esse cenário, retratado por Caminha, reflete a fotografia de suas retinas sobre a novel terra, “seu Gouveia” e Esquadra aportaram em Alagoas e não na Bahia, como coonestado pelo projeto global do Brasil500anos, porquanto, na região baiana de Porto Seguro, "não existe nenhuma lagoa de água doce, existindo sim três pequenas lagoas salgadas, cujas comunicações com o mar só se estabelecem nas marés altas", bem como também não há registros de que lá tenha sido ou venha ser a Terra dos Caetés, pois que D. Pero Fernandes Sardinha não foi morto pelos aimorés. Isto é fato, e contra fatos não há argumentos, portanto, basta de engodo e mentiras nesses cinco séculos.
Será que vamos iniciar um novo milênio negando, escamoteando ou falseando a verdade histórica de nossas origens aos nossos futuros descendentes? Creio que não. Nossos historiadores não permitirão, tenho certeza disto. E o nosso O Jornal dará seu testemunho verídico, através de nossos brilhantes historiadores, que compõem a equipe responsável pelo encarte especial: fascículo Alagoas500anos, para um futuro sem falácias.
Maceió, 18 de fevereiro de 2000
*Ten. Cel PMAL, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Universidade Federal de Alagoas - UFAL, 1992; Curso de Direitos Humanos na Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, out./1994, patrocinado e ministrado pelo Center of Human Rights da ONU; Curso de Direitos Humanos ministrado e patrocinado pela Americas Watch, em Maceió/AL. 1995; Membro da Anistia Internacional no Brasil - Seção brasileira; Membro, Diretor Fundador e 2º. Secretário do Grupo de Direitos Humanos "Tortura Nunca Mais", em Alagoas”
N.A.: ** O texto acima fora editado em O Jornal, sob o título “Descobrimento do Brasil – uma polêmica fértil”, na edição de 22 de Abril de 2000.
Abr

*JG
P.S.: Reeditado para a série: "rememorar para jamais olvidar"

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